Para o professor Jorge Miklos, o conservadorismo jamais morreu, apenas adormecia, pois é traço da cultura brasileira.


Os protestos recentes contra diferentes formas de expressão de arte, a homoafetividade, o aborto, as definições de gênero e os movimentos feministas, dentre outras bandeiras progressistas da sociedade brasileira contemporânea, deveriam causar surpresa mais pelas violências física e discursiva dos manifestantes, ambas assustadoras, do que pelo avanço propriamente dito da onda conservadora que varre o País. “O conservadorismo é um traço indelével da cultura brasileira”, afirma o historiador e sociólogo Jorge Miklos, que também professor universitário, mestre em Ciências das Religiões e doutor em comunicação. “Muitos temem as agendas mais identificadas com mudanças e transformações sociais e culturais.”


As expressões de artes, principalmente aquelas confinadas em galerias e museus, embora atinjam um público reduzido e de nível sociocultural acima da média da população, é o alvo da vez dos manifestantes conservadores pelo impacto que podem causar (e causaram) na sociedade e gerar visibilidade mediática. “A arte costuma ser um espaço de experimentação e transgressão. O artista busca na quebra de paradigmas expressar as suas ideias o que, por vezes, acaba chocando as mentes e motivando reações mais conservadoras”, revela o professor.


Miklos percebe nestas manifestações conservadoras um viés fortemente religioso, o que também, segundo ele, não deveria causar qualquer tipo de estranhamento. “É comum associar religiões às ondas de conservadorismo. No passado foi o catolicismo. No presente, os segmentos evangélicos, mais especificamente os neopentecostais, que se valem da Teologia da Prosperidade como ideologia e afirmam que o ‘inimigo’ real, ou seja, o ‘demônio’, está nas agendas dos movimentos de defendem as bandeiras mais liberais da nossa sociedade”, explica o professor.  


Esta onda conservadora e radical, que foi combatida pela ala mais liberal da sociedade, fez ressurgir das sombras as lembranças dos tempos assustadores da censura imposta pela ditadura militar, que mutilou a criatividade e aprisionou a liberdade de expressão durante os 21 anos em que vigorou no País. “Vivemos o avanço de uma onda conservadora e um recuo dos movimentos mais progressistas identificados com reformas e revoluções sociais”, afirma.


Miklos: “Este avanço e recuo é fruto do espírito do nosso tempo. Desde a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, paira sobre o Ocidente um regresso conservador embalado por discursos do fim da história, do neoliberalismo. Este clima impacta muito a religião,” acrescenta.


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