A limpeza de ambientes é um tema absolutamente comum na temática nacional, sobretudo numa sociedade em que o sincretismo místico-religioso pode ser considerado algo tão natural e cotidiano quanto um pingado e um pão na chapa pela manhã. Mas ainda fico intrigado com expressões como “católico não-praticante” (seria um semi-cristão que não curte ou aceita mais a sabatina sonífera do tal padre moralista, preferindo fazer o reforço da fé pessoal com reza própria e velas para o anjo da guarda, quase um bônus sem ônus?).

Algumas afirmações são irônicas, tais como “não gosto do candomblé, é coisa muito pesada, tudo macumba”,  enquanto se chora de louvor na presença à lavagem da escadaria do Senhor do Bonfim ou ao pular as tais 7 ondas na praia, de branco, pedindo bençãos para a “agora” mãe de todos, Iemanjá. Vai entender.

Nas moradias, quem nunca usou da mandinga do discurso ateísta, ao mesmo tempo que colocava um copo de sal grosso com ônix preta atrás da porta, um vaso de arruda e guiné no jardim de entrada, acoplado com um Ba Gua empolgadamente espelhado na testada da porteira? E, fora tais premissas, quantas vezes (ao menos na mente) pensamos de maneira sorrateira: “como está pesada a energia desse local, precisa de uma limpeza espiritual urgente”. Parece-me, assim, que somos seres sincréticos e ritualísticos (este último, não sei se deveríamos ser tanto), necessitando quase sempre de um algo maior para nos orientar, ditar, limpar, harmonizar. Sobre esse termo em questão, de tão genérico no uso referente à equalização ambiental, faz-se pensar sobre esse “pacotão” que chamamos de limpeza energética. Uma defumação com ervas e carvão faz o que, realmente? Queima miasmas espirituais, alinha formas-pensamento? Encaminha espíritos perdidos, abre caminhos fechados pela inveja e falácia? Algumas delas ou todas? E uma correção geobiológica? Minimiza impactos na saúde enquanto somatização? Ou atuaria também no reequilíbrio psicoemocional, uma possível estabilização de crises depressivas ao se evitar os pontos-doença de Hartmann, Curry e veios d’água subterrâneos? Agora vai algumas perguntas-crica: “Um trabalho magístico com elementais da natureza, sobretudo do elemento alquímico Terra, pode alterar o impacto de uma geopatologia?” E os gráficos de radiestesia? Limpam tudo ou só uma parte? Protegem os moradores de pontos anômalos da residência? Um “emblema” de André Phillipe, pintado de roxo, colado no para-brisa do carro, protege mesmo? Dê que? Mau-olhado? Roubo? Acidentes inconsequentes, com a benção extra de Saint Germain?


Harmonização de Ambientes e o Feng Shui

Voltemos uma reflexão mais direta e purista, sobre o termo harmonização. Segundo o dicionário, harmonização se refere ao ato ou efeito de harmonizar e a palavra harmonia significa “(...) 1. combinação de elementos diferentes e individualizados, mas ligados por uma relação de pertinência, que produz uma sensação agradável e de prazer; 2. ausência de conflitos; paz, concórdia (...)”

 Mas do que trata essa tal harmonização de ambientes? Reforçando o que que já foi discorrido em artigos anteriores, propõe-se separar em quatro tópicos distintos de abordagem:

• Harmonização energético-espiritual: alteração qualitativa da contraparte espiritual do plano físico - de um meio instável a um mais ordenado, seja por estímulo intrapessoal (bioenergia - melhora do potencial áurico dos moradores / usuários) ou ritualístico (evocações mágicas, uso de elementos da natureza, etc), podendo ou não estar associado ao direcionamento / encaminhamento de consciências desencarnadas (espíritos). Geralmente chamado de equilíbrio de ambientes, limpeza astral, limpeza energética ou espiritual;

• Harmonização simbólico-formal: ativação sensorial através da inserção de elementos específicos geralmente associados a uma linha religiosa ou mística (mesclados à decoração ou disfarçados), com o intento de gerar um efeito de imantação mágica reforçado pela memória formal do objeto e retroalimentado pelo estímulo psicoemocional dos moradores. Símbolos como a cruz, o Ba Gua, as curas paliativas formais do Feng Shui (sobretudo na sua vertente moderna - o Chapéu Preto, mas também presentes parcialmente nos métodos ditos tradicionais), os pontos riscados, os gráficos radiônicos, entre outros. Vem perdendo eficácia nos últimos anos, principalmente pós 2012;

• Harmonização cosmo-telúrica: tentativa de melhoria no bem-estar e saúde, evitando os pontos de desequilíbrio geobiológico ou minimizando os impactos nas alterações do campo bioelétrico pessoal (duplo etérico) passíveis de somatização física, proveniente de efeitos cumulativos relacionados à exposição, em grande escala, às falhas geológicas, malhas de energia terrestres, poluição eletromagnética, radioativa, entre outros;

• Harmonização probabilística: estudos técnico-empíricos relativos às possibilidades de se prever / alterar algumas tendências favoráveis (estimulando-as) ou desfavoráveis (minimizando-se o impacto) inatas à construção, levando-se em conta alguns parâmetros específicos, como o direcionamento do padrão de entrada da Energia Vital (Qi), o momento (ano) da finalização da obra, o formato, dinâmica de uso externo (relação com o entorno, acessos ao imóvel, etc) e interno (localização dos cômodos, hábitos dos moradores / usuários, etc);

Mesmo que se inter-relacionem (uma podendo afetar no resultado da outra), salienta-se que o Feng Shui Tradicional atua primariamente sobre a abordagem da harmonização probabilística, sendo que, em alguns momentos, dá-se ênfase às técnicas de harmonização simbólico-formal como paliativo / reflexão pessoal pela mudança do estímulo cognitivo ambiental, quando há uma limitação nas possibilidades de modificação estrutural de um local. Talvez essa constatação tire um pouco do “encantamento universalizante” – quase juvenil, na verdade, em que o Feng Shui, nas suas diversas variantes, é vendido costumeiramente a alguns públicos, quase que beirando um modelo de controle moral (o certo e errado, bem e mal) com sugestão de ordenação místico-decorativa. Por outro lado, desmistificar e determinar os limites encontrados nessa sabedoria amplia, na visão do autor, a reflexão sobre os possíveis novos caminhos e abordagens dessa metodologia ancestral nos Novos Tempos, com menos expectativas ilusórias, extravagâncias ou roupagens de solução rápida, fácil e com promessas de melhorias meteóricas na qualidade de vida apenas com a força do pensamento positivo e alguns sinos de vento e aquários, mas desconectadas de uma mínima mudança referencial sobre as escolhas pessoais e ritmo de vida.

A problemática da Solidão – A Casa Isolada

Dando continuidade às terminologias e funções dos famigerados termos “limpeza ou harmonização energética de ambientes”, uma questão muito atual deve ser levantada: “Há alguma técnica (ancestral, profunda, mandingueira ou rasa) que elimine a sensação de isolamento, enquanto anomia do indivíduo? Não me refiro às charges “traga seu amor de volta em 7 dias” ou “blinde seu casamento, torne-o próspero”, entre outras, mas sim à sensação gutural de solidão na atualidade, mesmo que se tente maquiar tal condição com fotos de experiências incríveis e sorrisos emblematicamente orgásticos nos Instagrams e Facebooks da vida. Sinceramente, não me parece possível haver uma fórmula para arrancar essa dor no coração, pois esta é um Ser-Nada, indescritível, inominável. Entende-se e descreve-se este vazio de maneira apenas periférica, talvez pelo simples fato de que a vida, em suma, sempre será solitária, o que, para a maior parte da sociedade, é angustiante. Aqui cabe uma observação existencialista: refiro-me à vida solitária como um modelo de “solitarismo”, em que, tudo, absolutamente tudo, se fundamenta em processos de experimentação e escolha que iniciam e finalizam na unidade ser humano, e que é Um (e aqui não me refiro aos jargões “todos somos um”,” a essência divina universal”, etc). Entretanto, se a caminhada é e será sempre solitária no sentido de filtro e decisão pessoal (e, portanto, intransferível), esta não precisa ser isolada, em solidão, pois experienciamos em conjunto, crescemos em grupos e unidades de compartilhamento.

Entretanto, uma nuvem escura parece se fixar no horizonte das ideias, das opiniões e por que não, na alma das casas, fruto de uma série de fatores complexos, em que destaco alguns nesse instante: uma reação instintiva de preservação ao momento de intensa polarização (o chamado desdém silencioso) e a confusão entre autoconhecimento e inação (o isolamento imanente). Do primeiro, o fundamento é clássico: não concordar com o que ocorre em território nacional ou do mundo, mas calar-se para não haver mais desgaste pessoal. Sobre o segundo, a condição é mais complexa, pois trata-se de uma passividade que é comumente traduzida como algo profundamente espiritual, meditativo, e totalmente separado do caos externo (foco em supostas crenças positivistas, como amor, união e gratidão como esmero transcendental). Em ambos os caminhos, o efeito é similar, no fim das contas: o isolamento travestido de silêncio. Tal condição parece ampliar essa sensação solidão, de não poder contar com o próximo, uma diminuição da generosidade e o foco cada vez mais voltado ao fundamento id-ótico. E nesse estado, nada ou ninguém pode fazer harmonizar, limpar, modificar, pois é um estado d’alma triste.

Assim, uma possível proposta para a renovação dessa condição não se refere a uma nova erva de defumação, ou o uso de grandes montantes de cristal rosa para estimular a união perdida, mas um modo de sentir e vivenciar essa angústia (e aos poucos assumi-la, de maneira mais natural), fazendo-se compreender como a outra faceta da Alegria (enquanto Potencial de Vida), e entendendo que não é possível eliminá-la em prol de uma felicidade, pois a angústia faz parte do Solitarismo do Ser, das escolhas em abismos existenciais sem garantias. Mas, mais do que isso somente, notar também que, no Silêncio, inclui-se o Inconformismo Criativo (que nada tem a ver com expurgar reclamações aos ventos) e o Nomadismo Compartilhado (um algo-condição poético-sensível que estimula uma estabilidade na mudança, um sentido de philia dos encontros possíveis. E não há limpeza no mundo capaz de fazer rebatizar uma Casa Sozinho-Isolada em Casa Solitário-Vigorosa. Esta última apenas só é passível de nascer através do próprio indivíduo, inicialmente temeroso, que se desconstrói pouco a pouco e se reagrupa em brio dos constantes choques do Sujeito-Novo, agora autônomo e harmonioso também com as condições externas. E haja sal grosso existencial para os homens cada vez mais sozinhos que sentem a solidão dos dias atuais, mas que estão esperando algo (a mais) acontecer para transformar a si mesmos...

 

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