– Parte 1

Abordar assuntos tão vastos como a harmonização ambiental, Feng Shui ou mesmo Astrologia Oriental denota uma necessidade prévia de se fundamentar alguns princípios e conceitos conjugados, tanto do pensamento oriundo em destaque (no caso, a Metafísica Chinesa), quanto dos pré-supostos do autor enquanto referencial e linguagem integrativa (para maiores informações, vide entrevista realizada pelo Jornal O Legado em dezembro de 2015. Assim, a partir desse mês, será iniciada uma “caminhada” didática dividida em quatro escritos (de fevereiro a maio), que comporá uma introdução reflexiva ao título acima, segundo temáticas específicas:

1º: Harmonizações Ambientais e Funções do Feng Shui Tradicional;
2º: Momentos Energéticos - Desafios Globais e Pontuais;
3º: Modelos de Pensamento, Construção de Mundo e Modificação da Percepção;
4º: Avaliações, Intervenções e Curas;

Como proposta base, antecipa-se a escolha por discutir tópicos mais profundos do que simplesmente explicitar dicas rápidas para se adquirir sucesso e bem estar em meio à crise atual ou uma previsão “astro-esperançosa” do ano em questão. Em suma, tentará se instigar uma ponderação cética (enquanto manutenção da dúvida, não em crença cega na negação) e um diálogo crítico com o leitor-pesquisador.

Harmonizações Ambientais

Talvez as palavras mais usadas no escopo místico-esotérico (como atributos da expressão Energia) sejam os termos “limpeza” ou “harmonização”. Em sua maioria utilizada de maneira imprecisa ou equivocada, tais vocábulos inspiram, por vezes, divagações muito abstratas, pois nesse “pacote” de atividades sutis geralmente englobam-se interpretações e funções completamente distintas (e de variadas origens), mas que acabam sendo categorizados como tendo um único fundamento (o de limpar, de equalizar, de eliminar um problema).

Conforme descrito na obra Feng Shui Clássico nos Novos Tempos, harmonização se refere ao ato ou efeito de harmonizar e a palavra harmonia significa “(...) 1. combinação de elementos diferentes e individualizados, mas ligados por uma relação de pertinência, que produz uma sensação agradável e de prazer; 2. ausência de conflitos; paz, concórdia (...)”
Mas do que trata essa tal harmonização ao ser aplicada no ambiente? Para auxiliar no entendimento, propõe-se separar o assunto em quatro subtópicos distintos:

• Harmonização energético-espiritual: alteração qualitativa da contraparte espiritual do plano físico - de um meio instável a um mais ordenado, seja por estímulo intrapessoal (bioenergia - melhora do potencial áurico dos moradores / usuários) ou ritualístico (evocações mágicas, uso de elementos da natureza, etc), podendo ou não estar associado ao direcionamento / encaminhamento de consciências desencarnadas (espíritos). Geralmente chamado de equilíbrio de ambientes, limpeza astral, limpeza energética ou espiritual;

• Harmonização simbólico-formal: ativação sensorial através da inserção de elementos específicos geralmente associados a uma linha religiosa ou mística (mesclados à decoração ou disfarçados), com o intento de gerar um efeito de imantação mágica reforçado pela memória formal do objeto e retroalimentado pelo estímulo psicoemocional dos moradores. Símbolos como a cruz, o ba gua, as curas paliativas formais do Feng Shui (sobretudo na sua vertente moderna - o Chapéu Preto, mas também presentes parcialmente nos métodos ditos tradicionais), os pontos riscados, os gráficos radiônicos, entre outros;

• Harmonização cosmotelúrica: tentativa de melhora do bem estar e saúde, evitando os pontos de desequilíbrio geobiológico ou minimizando os impactos nas alterações do campo bioelétrico pessoal (duplo etérico) passíveis de somatização física, proveniente de efeitos cumulativos relacionados à exposição, em grande escala, às falhas geológicas, malhas de energia terrestres, poluição eletromagnética, radioativa, entre outros;

• Harmonização probabilística: estudos técnico-empíricos relativos às possibilidades de se prever / alterar algumas tendências favoráveis (estimulando-as) ou desfavoráveis (minimizando-se o impacto) inatas à construção, levando-se em conta alguns parâmetros específicos, como o direcionamento do padrão de entrada da Energia Vital (Qi), o momento (ano) da finalização da obra, o formato, dinâmica de uso externo (relação com o entorno, acessos ao imóvel, etc.) e interno (localização dos cômodos, hábitos dos moradores / usuários, etc.);

Assim, mesmo que cada um dos tópicos acima tenha uma margem de interelação entre si, salienta-se que são aspectos distintos do que comumente se chama genericamente por harmonização. Caberia, portanto, ao profissional qualificado, pesquisador e, principalmente, ao cliente, entender qual à proposta de atuação escolhida, e o que esperar (portanto, o que não esperar, enquanto expectativa).


Funções do Feng Shui


Originária na China, conceitualmente, o termo Feng Shui (pronunciado “Fôn Suei” no cantonês e “Fôn Chuei” no mandarim, com o significado literal Vento-Água) remete a um conglomerado de técnicas de reorganização espacial / ambiental que visa estabelecer um equilíbrio dinâmico entre a edificação, o entorno e o homem, no que tange a harmonia no cotidiano, sobretudo nos temas saúde, relacionamento interpessoal e potencial de realização, comumente entendido como prosperidade. Outra designação relacionada é o Kan Yu, algo próximo aos termos “alquimia do Céu e da Terra”, referência essa muito anterior à terminologia do Vento e Água e mais associado aos primórdios dessa sabedoria.

É importante esclarecer que Feng Shui não se limita apenas em colocar “penduricalhos”, como sinos de vento e flautas em determinados pontos da casa. Para se vivenciar o Kan Yu, é necessário conhecer alguns conceitos fundamentais da metafísica chinesa, tais quais as características da chamada energia vital (Qi), dos fluxos do Yin e Yang e do Wu Xing (5 Transformações), da linguagem dos trigramas e das suas interpretações arquetípicas na natureza, além dos diversos tipos de estudos cosmológicos, das tradições e ritos orientais. Outra dúvida comum ao iniciante é a grande quantidade de linhas de atuação que compõe o Feng Shui, tornando-se fundamental, portanto, compreender que não existe somente um tipo de sistema ou escola, mas inúmeras. Além disso, os métodos ancestrais não vieram somente de um local; na China, esse estudo perpetuou-se como uma tradição familiar ou discipular, sendo que cada uma possui um enfoque diferente.

É comum encontrar os termos Escola da Forma ou da Bússola como subdivisões dos tipos de Feng Shui, como tentativa de reformulação resumida possivelmente pós-revolução cultural de Mao Ze Dong (Mao Tsé Tung), mas que se tornou muito aprazível também aos moldes ocidentais, devido à facilidade de entendimento (acrescentando posteriormente nesse escopo, a Escola Black Hat Sect). Nesse primeiro momento, entretanto, optar-se-á por uma visão mais complexa do que a anterior, mas que ao mesmo tempo, poderá demonstrar que o Feng Shui se baseia mais em maneiras de interpretar o ambiente do que propriamente uma técnica única de soluções decorativas de cunho energético que visam um resultado linear. Poder-se-ia separar as abordagens, portanto, em:

• Feng Shui Moderno: uma mescla de conhecimentos das culturas místicas sino-tibetanas com a PNL (Programação Neurolinguística), reinterpretadas no fim dos anos 1970 nos EUA pelo prof. e sacerdote Thomas Li Yun, tornou-se a mais difundida em todo o mundo na virada do século XXI. Designa os famosos cantos da casa e incorporam-se rituais e propostas “magísticas” nos processos de consagração do espaço. É a mais intuitiva das escolas, trabalhando principalmente com o universo simbólico do morador e a força do pensamento como mola propulsora para se atingir os objetivos pragmático-emocionais. Muitos estudiosos não o consideram como Feng Shui de fato, pois muito pouco se alinha com o pensamento ancestral chinês. Mesmo atualmente possuindo algumas variantes, é denominado, na sua terminologia base, como Escola Americana, Californiana ou do Budismo Tântrico do Chapéu Preto;

• Feng Shui Tradicional ou Clássico: linha de atuação e pesquisa que se fundamenta na Metafísica Chinesa e que utiliza a Luo Pan – uma bússola especial para averiguação energética. Possui referências de origem provável há mais de 3.000 anos, principalmente com os estudos chamados de Yin Zhai (melhores posições e direções para os túmulos - acreditava-se que para haver uma boa continuidade da linhagem hereditária, seria necessário enterrar os ancestrais em determinadas disposições e locais benéficos). Mesmo havendo alguma continuidade da abordagem acima, na atualidade o Feng Shui Tradicional se destaca pela visão Yang Zhai (ou Casa dos Vivos), métodos auspiciosos utilizados nos ambientes construídos de uso cotidiano pessoal.

A partir da sua interface tradicional, o Kan Yu pode ser divido em duas tradições ou linhas de pensamento, sendo que cada uma delas possui escolas específicas e maneiras peculiares de interpretar o espaço:

• Tradição San-He (3-Harmonias): abordagem poética, sensível e de cunho psicoemocional, foca no diálogo integrativo entre a natureza, a construção e os moradores, com prioridade para o estudo da “força do lugar”. Entre muitos representantes, destacam-se os fundamentos da Escola Ba Zhai (8 Palácios).

• Tradição San-Yuan (3-Ciclos): visão mais técnica e matemática, prioriza o estudo probabilístico das ocorrências de eventos que podem melhorar ou desgastar a qualidade e vida como um todo. Destaca-se pelas análises do “fator tempo”, tendo em vista os ciclos energéticos globais e pontuais que fundamentam as experimentações pessoais e “janelas” de oportunidade. Tem na Escola Xuan Kong Fei Xing (Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras) o seu maior representante.

Concluindo a primeira parte, é importante destacar que o Feng Shui Tradicional parece atuar primariamente sobre a abordagem da harmonização probabilística (sobretudo na tradição San-Yuan), sendo que, em alguns momentos, dá-se ênfase às técnicas de harmonização simbólico-formal como paliativo / reflexão pessoal pela mudança do estímulo cognitivo ambiental, quando há uma limitação nas possibilidades de modificação estrutural de um local.

Em termos populares, o Feng Shui tem a função de, a partir da construção, gerar abundância e estabilidade, pelo incremento do tema “pessoas” (saúde e relacionamentos no geral) e “prosperidade” (melhora nas finanças, trabalho, status). Entretanto, a questão que fica no ar é se, a despeito do pragmatismo corriqueiro funcional, o Kan Yu não teria também uma outra proposta mais consciencial, principalmente em momentos de transição e desafios que parecem se apresentar no horizonte? (Mais detalhes sobre esse tema - que se denominou como Novos Tempos - nos próximos artigos).

Convida-se, portanto, o leitor a uma reflexão sobre os possíveis novos caminhos e abordagens dessa metodologia ancestral na contemporaneidade, talvez com menos expectativas ilusórias, extravagâncias ou roupagens de solução rápida, fácil e com promessas de melhorias meteóricas na qualidade de vida apenas com a força do pensamento positivo e alguns sinos de vento e aquários, mas desconectadas de uma mínima mudança referencial sobre as escolhas pessoais e ritmo de vida.

Como questionamento provocativo, sugere-se a ideia de que provavelmente o Feng Shui não teria a função de estimular a prosperidade ou melhorar os relacionamentos afetivos per si, mas sim demonstrar, graficamente, um modelo dinâmico-referencial de tendências probabilísticas atuais, resultado das escolhas pessoais conscientes e inconscientes anteriores, moldadas pelo fator atrator do potencial de aprendizado existencial. O experienciar lúcido dos potenciais estimulados pela edificação (sejam eles quais forem, inclusive os desafiadores) é o que provavelmente determinará um ambiente mais harmônico e com melhor qualidade de vida aos moradores, já que, por essa visão, a casa torna-se um espelho de quem somos ou podemos vir a ser.


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