Procurou-se demonstrar, sob o viés do Feng Shui Tradicional e com alguns parâmetros da Cosmologia Chinesa, como se está vivenciando um momento planetário muito peculiar e relevante consciencialmente. As transformações que ocorreram e ainda se sucedem modificam o homem e a realidade física de tal modo que muitos aspectos e hábitos do cotidiano provavelmente serão revistos nos próximos anos, sobretudo no que tange os fatores éticos (portanto, existenciais), já que, conforme apresentado nos artigos anteriores, o potencial de influência espiritual na matéria está muito mais direto e abrangente, fazendo com que se sinta muito mais os processos emocionais intra e interpessoais (empatia). Como nos acostumamos a um sistema de forças (e não de ideias), geralmente reagimos aos incômodos existenciais com um vigor exasperado, seja no aumento da dose de remédios, na reatividade emocional, no radicalismo do discurso moral ou religioso, na intensidade dos estímulos virtuais ou catárticos que ampliam a distração aos pés da alienação ou, no caso das técnicas de equilíbrio ambiental, no incremento do uso de parafernálias esotéricas ou aplicação de segredos místicos na casa que prometem um fluxo harmônico de possibilidades mas que acabam, nesses Novos Tempos, gerando desapontamento pelas expectativas não atingidas.

Nesse sentido, na teoria apresentada no segundo escrito dessa série, mostrou-se o conceito de sutilização da matéria, e de como as modificações estruturais que tiveram seu pico em 2012 não apenas influenciaram no comportamento e visão coletiva e pessoal, mas também modificaram as chamadas harmonizações paliativas (ou comumente denominadas de curas ambientais). Relembra-se, assim, o seguinte questionamento levantado no artigo de março de 2016 (parte 2): Supondo que tal mudança estrutural esteja realmente ocorrendo, como estão as curas e harmonizações no Feng Shui?

Do conceito de Jie Hua à falácia das Curas

Nota-se que no Feng Shui, como em muitas visões esotéricas baseadas em transcendência, a utilização de objetos específicos com função de cura ganhou um status imenso nas últimas décadas. Desde eliminar os efeitos de uma combinação nefasta, potencializar uma estrela benéfica que está fragilizada ou até mesmo proteger uma construção de más energias pregando um Ba Gua espelhado na porta de entrada, se tornaram hábitos até comuns tantos nos curiosos quanto estudiosos do tema.

É interessante constatar que em tempos antigos, nos métodos de Feng Shui Tradicional não existia o conceito de intervenção pontual (ou se tinha uma condição favorável ou no máximo modificava-se estruturalmente uma entrada, caminho ou posição de uma cama, etc.). Quando não havia possibilidade para as modificações, sugeria-se a mudança do local, pois este estaria “condenado”. Então como passamos de regras claras e definidas (não necessariamente melhores ou piores) para métodos em que uma praticidade superficial tornou-se quase reinante, onde caso não seja possível uma mudança mais desafiadora, não há problema, pois se pode substituir uma atuação complexa pela inserção de um elemento decorativo que resolva a questão, seja uma fonte, um sino de vento ou até mesmo uma cor? De onde surgiram tais “aspirinas” de Feng Shui?

Os pesquisadores Howard Chou (Cai Hong) e Wang Yu De levantam um princípio histórico bem relevante, baseado na própria evolução do Kan Yu. Segundo os estudiosos, em determinado momento da história recente, um mestre de Feng Shui, ao constatar as dificuldades em transpor alguns dos princípios ancestrais mais rígidos à dinâmica das grandes cidades que estavam surgindo, propôs um método de modificação cognitiva intrapessoal denominada Jie Hua, o que poderia ser traduzido como Mudança Correta ou Transformação Consciente. Em outras palavras, caso não conseguisse modificar a infraestrutura de uma construção para melhorar um Feng Shui, talvez fosse possível transformar a maneira em que as pessoas reagiriam aos impactos energéticos, inserindo, nesse ponto, um objeto (que não tinha uma função de cura, mas de memória do fator modificador que teria que partir do próprio homem). Para reforçar a conexão, criava-se uma metodologia baseada no código do Wu Xing, transpondo a teoria dos 5 Elementos para as representações manifestadas (formas, cores, sons e materiais) dessa “lembrança cognitiva”, que deveria ser estimulada através das novas escolhas e mudança de postura / comportamento dos moradores.

Esse conceito muito coerente, com o tempo gerou mais problemas do que soluções de fato, pois gradualmente o foco deixou de ser o homem e se depositou no item em si, fazendo com que o objeto ganhasse o título de “artefato curante”, até mesmo para o mais cientificista dos consultores.

Avaliações, Intervenções e Curas

Independentemente da mudança de enfoque e incremento da complexidade teórica e alegórica que tornou tal aplicação justificada e defendida por muitos como fundamental (por vezes escondendo a real superficialidade dos pressupostos), o uso das “curas formais” de fato exerceu efeito nas ditas harmonizações de Feng Shui por muito tempo.

Mas como isso ocorria? Com a dinâmica do fator “uso e repetição”, criava-se uma egrégora magística baseada no reforço da memória, gerando um efeito de imantação pela função e intenção. Naturalmente, para os neófitos clientes que não distinguiam um objeto decorativo qualquer de uma “cura fundamentada”, entrava-se nesse instante o papel do consultor, que reforçava com a sua ideologia e “firmeza” os parâmetros da harmonização pontual para os moradores, fazendo com que o efeito dependesse de quanto da argumentação do especialista realmente era incorporado como a “nova verdade” para os consulentes, que acolhiam a informação e traduziam-na para uma “solução formatada”, o “objeto encantado”. Nesse sentido, cabe uma observação: a continuidade desse efeito era baseada no reforço da crença na “cura”, questão que era retomada enquanto necessidade e dinamizada (em posição e contexto) a cada revisão (geralmente anual), com a atuação direta ou indireta, novamente do gestor da consultoria.

Mesmo que muitos argumentem que no Feng Shui Clássico não seria necessário a pessoa acreditar no processo das curas pontuais, mas apenas seguir as recomendações (pois se tratariam de dinâmicas maiores da Natureza, do Qi, do Wu Xing ou outros argumentos misteriosos), pode-se dizer que a afirmação é contraditória, pois me parece que essa tal “fé” era uma condição fundamental de gatilho, mesmo que o único crente na história toda fosse somente o próprio consultor.

Para os que utilizavam tal proposta de maneira coerente, procurava-se incorporar o conceito de Jie Hua aos tempos modernos, algo como “ser correto de maneira ritualística como também de maneira prática”. Sobre a frase entende-se:

• “Ser correto de maneira ritualística”: escolher um objeto que represente eficientemente o elemento Wu Xing enquanto expressão no contexto da harmonização (e que seja “validado” pela fundamentação teórica do profissional e que tenha sido utilizado como exemplo formal também por outras pessoas com intenções similares, seja na história recente ou de maneira mais eficaz, utilizando-se a amplitude ancestral - gerando assim o efeito egrégora);

• “Ser correto de maneira prática”: mesmo que exista, segundo o estudioso, uma representação “ideal” do que é a interface formal do Wu Xing, esse crivo deveria ser validado pelo cliente. Não adiantaria uma recomendação ser engolida a fórceps pelo consulente, se este não desenvolve “apreço” mínimo para com a harmonização, pois a ativação seria mantida pelo usuário do ambiente, mesmo que inicialmente pudesse haver uma indução em “forma pensamento” vigorosa, por parte do consultor. Nesse sentido, a frase conota que seria até melhor chegar a um meio termo entre o fundamento ritualístico e as necessidades práticas do usuário (mesmo que o objeto recomendado não seja totalmente fiel às características do elemento em si), já que este último poderá criar, em médio prazo, a indução necessária para se gerar a harmonia, caso ocorra a transferência dos valores / conceitos de maneira eficaz e reforçada pela rotina do morador;

As Intervenções Paliativas na Nova Realidade

O ponto não é discutir se é certo ou equivocado o uso de harmonizações com elementos, mas sim nas mudanças estruturais que parecem ter ocorrido nos Novos Tempos e que modificaram as ativações magísticas fundamentadas na forma, que é exatamente o caso das Intervenções Paliativas de Feng Shui, que se referem à ativação de egrégora pela memória formal. Assim, como houve uma modificação no acesso ou no próprio “akash”, os processos de sutilização da matéria mudaram os efeitos de tais acionamentos, fazendo com que elas deixassem de funcionar pela repetição, intenção / afirmação ou programação. Gráficos radiônicos, pontos riscados, patuás ou até mesmo alguns tipos de oração também parecem ser casos da perda de concordância energética. Parece-me que o efeito reativo dessa mudança de funcionamento levanta uma questão instigante: o quanto se espera em demasia por uma solução externa, algo o que resolva ou elimine os problemas sem que se precise sair da zona de conforto pessoal e nem sequer levante o questionamento dos hábitos nocivos?

Por outro lado, o que se nota atualmente é um esforço sobre-humano em se manter uma infraestrutura de funcionamento mínima, tentando compensar essa sensação de carência pela força e vigor, seja pelo aumento do número de rezas, de limpezas energéticas ou colocação de “curas” ambientais inusitadas, que se antes já eram questionáveis, hoje se tornam exageradas e ineficientes (“do aquário ativador de prosperidade à cachoeira em plena sala, do sino de vento à inserção de quilos de elemento metal para se tentar frear as doenças na família, etc.”). Talvez o ponto não seja aumentar a quantidade ou ardor, mas a maneira de enfocar tais referenciais.

Se antes as curas funcionavam razoavelmente, caso a pessoa soubesse estimular os potenciais, hoje parece ser necessário algo mais profundo, estrutural, baseado não mais na forma ou conceito embutido, mas, sobretudo, no Sentir. Assim, sugere-se o seguinte questionamento, caso as intervenções paliativas sejam utilizadas:

1. Sente-se que determinado artefato vai auxiliar na melhora de algum aspecto da vida? Se for preciso construir uma crença em cima disso (baseada na imaginação ou afirmação indutiva apenas), a cura pode ser descartada, pois provavelmente não funcionará;

2. A despeito de toda a fundamentação (por mais sagrada e profunda que possa parecer), consegue-se sentir realmente o que se teoriza sobre o objeto recomendado? Se a questão for uma proposta de cura pessoal, por exemplo, sente-se verdadeiramente um referencial de fluxo curador ou mesmo um sentimento de estabilização compatível com o tema, no item indicado? Conseguir-se-ia gerar esse parâmetro de maneira intrínseca, sem ser pelo dogma, catarse emocional ou pelo intelecto apenas?

Esse caminhar “invertido” talvez seja no início muito desafiador, já que construímos uma linguagem prática para funcionar no mundo (vide artigo – parte 3), muito limitada pela causalidade transcendental e niilista. Portanto, essa proposta talvez gere muitas dúvidas e incômodos, principalmente se temos a expectativa que apenas algo externo resolva as nossas questões internas. Talvez se precise até mesmo mudar a maneira de interpretarmos e utilizarmos o Feng Shui, não mais como um canal de solução fácil, mas sim de reflexão, de diálogo interno. Mas que essa renovação, mais do que desafiadora e utópica, se torne possível a esse homem renovado dos Novos Tempos...



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