Hatha  Yóga  LVIII

 



Introdução

No capítulo precedente, apresentamos em detalhes, um plano básico para uma boa aula de Hatha Yóga, estruturado de forma didática e metodológica.

A idéia central de tal plano é fortalecer a ministração das aulas de Hatha Yóga, por parte dos diferentes profissionais, oferecendo mais um caminho ou possibilidade de aperfeiçoamento desta atividade no seu cotidiano e em suas diferentes esferas.

Todavia, também, há um outro aspecto fundamental que é transmitir tanto a leigos, quanto a praticantes de diferentes níveis, uma possível visão estrutural de uma aula nos seus mais diferentes contextos.

Neste capítulo atual, vamos abordar um termo muito em voga na atualidade, qual seja, “a inteligência das coisas”.

Lembrando que com exceção da natureza e de seus elementos naturais, seja os aquáticos, os minerais, a fauna, a flora e as pessoas, “as coisas” produzidas pelo homem não tem inteligência nenhuma.

Até porque, tais “coisas” dependem de algum tipo de aparato ou parafernália eletrônica – tipo um programa ou aplicativo – para interagir mecanicamente como o ambiente natural. E tal agir, está diretamente ligado há algum tipo de ação do ser, para mobilizá-lo.

Porém, há outro aspecto fundamental, envolvido de forma intrínseca nisto tudo. E, é a este respeito que vamos tratar aqui.

Desenvolvimento

Para iniciar, podemos alegar com total propriedade, que “as coisas” dependendo como tal termo é empregado, não tem “consciência”. Por exemplo, uma geladeira, um avião, um carro, uma máquina de lavar roupa, um navio, um trator não têm e nunca terão inteligência própria. Pois são somente máquinas manejadas por alguém.

E o mesmo, pode-se dizer sobre computadores, aviões teleguiados, drones e qualquer outro tipo de máquina, por mais aperfeiçoada que seja. Embora, o aperfeiçoamento profundo, ainda esteja bastante distante de ser alcançado. E na realidade, há muita falácia para se dar uma falsa ideia de avanço ou modernidade.

Por outro lado, se quisermos mesmo tratar sobre inteligência, antes, temos que abordar a consciência das pessoas, nos seus mais diferentes níveis e substratos. Por exemplo, os substratos eletro neurológicos psíquicos, o consciente, o subconsciente e o inconsciente.

Com todos os seus delicados e complexos neuro-circuitos e conteúdo, que inclusive envolvem a memória, os sentimentos, as emoções, os movimentos sutis, os pensamentos, a propriocepção, a percepção sutil e profunda gerada a partir dos dezesseis perceptos, oito de cada lado dos dois hemisférios eletro cerebrais e outras estruturas ainda a serem desvendadas dentro do cérebro e da sua profunda e desconhecida estrutura psíquica.

A este respeito, tanto o Hatha Yóga dentro de dois dos seus principais textos clássicos, abordados nos capítulos LIV e LV e o Raja Yóga, em seu único texto clássico Yóga Sutras de Patanjali, desde o princípio dão total ênfase ao conceito e aos diferentes níveis da consciência.

Vão mais longe ainda, quando além de abordarem aspectos a este respeito, também oferecem práticas refinadas, no sentido de desenvolverem e após aperfeiçoarem não só a consciência, todavia, também suas muitas estratificações.

Por exemplo, com a prática do Ekagrata, que é um tipo de concentração que tem início com a fixação da visão em um único ponto por longo tempo. Mas que após, vai se desdobrando em outras direções do ambiente externo, até se voltar exclusivamente para o ambiente interno, na busca do aprimoramento não só da concentração em si, porém também da memória e dos diferentes níveis de consciência.

Pois no cotidiano, boa parte das pessoas vivem perdidas em distrações de todos os tipos, que as levam há fortes estados de ilusão, o que efetivamente as afastam dos estados de consciência mais elevados e mais profundos e as mantém em um estado semi-periférico de consciência.

A partir de tal situação, as pessoas levam a vida envolvidas em diferentes estados emocionais e sensações (vasanas e kleshas), nem sempre adequadas, e vivem sem nenhum tipo de lucidez, já que não tem um nível apropriado de consciência. E assim, vivem ao sabor e à intensidade de tais circunstâncias, arrastadas por paixões efêmeras, por momentos desconexos, por alterações entre equilíbrios e desequilíbrios interiores. Por alegrias e tristezas duais que as levam a certos estados de desequilíbrio ou de sofrimento.

E a prática do Ekagrata constante, é um dos instrumentos sofisticados e diretos que pode resgatar e aperfeiçoar a consciência das pessoas. Inclusive, lhes dando controle e equilíbrio, no que se refere ao consciente, ao inconsciente e ao subconsciente. E de outra forma, conduzindo-as há um profundo estado de equilíbrio interior, serenidade e bem aventurança.

Outros aspectos sutis desta complexa realidade

A priori, a prática do Ekagrata, no princípio, e o que é necessário e muito importante, produz o autocontrole interno de dois fortes aspectos geradores dos desequilíbrios e das alterações de humores, que geram alterações de comportamento. O primeiro dele, é o excesso de atividades eletro-psíquicas, conhecido como Indriyas. O segundo, é o excesso de atividades do consciente e do subconsciente, conhecido como Sanskaras.

Portanto, a partir do momento em que uma pessoa desenvolve a prática do Ekagrata, aliada a outros tipos de técnicas simples ou sofisticadas, por exemplo, assanas, pranayamas, kriyas e mudras, efetivamente seus desequilíbrios interiores – e também exteriores – vão sendo passo a passo diluídos, dissolvidos até estas pessoas chegarem a um estado de profundo equilíbrio, de paz, de saúde, bem estar e espiritualidade refulgente.

Importante frisarmos, que quando decidir dar início a tais práticas, a pessoa deverá paralelamente, observar a própria vida, seus atos, suas atitudes, sua maneira de interagir com seu interior e com tudo o que a cerca.

E a partir desta autoanálise (avadiyaya), iniciar as mudanças necessárias – e possíveis de serem realizadas = no sentido de obter o auto-aprimoramento necessário para uma sólida mudança de vida positiva, sob todos os aspectos e sentidos.

Contudo, para se iniciar e após se consolidar este estado de “vida nova”, deve-se utilizar as práticas também no sentido de se libertar – moksha – dos turbilhões de emoções, pensamentos e sensações e buscar cotidianamente uma constante tomada de consciência.

Para após, com o passar do tempo, ir refinando o conhecimento da mesma, e se atingir seus outros dois níveis mais profundos, quais seja o inconsciente e o subconsciente, de tal forma que possa interagir de uma forma segura com os seus inúmeros conteúdos. E utilizar os mesmos, tanto para benefício, equilíbrio e profundo bem estar próprio, quanto o de outrem.

A este respeito, é fundamental frisarmos que aliada a outras práticas, a prática dos pranayamas, dos mais diferentes níveis técnicos, é um instrumento da mais fundamental importância no cotidiano e na vida. E, visto que há um vínculo direto e profundo entre a respiração e a consciência.

Portanto, sob muitos aspectos, é a falta de uma respiração correta e equilibrada – só pelas narinas – que leva a maioria das pessoas à total falta de consciência. Inclusive, confundindo consciência com o turbilhão de pensamentos, emoções e sensações pesadas, às quais se acham escravizadas no dia a dia e durante quase a vida inteira.

É a profundidade e a suavidade constante do ritmo respiratório, que leva uma pessoa a ter uma sofisticada e esclarecida autoconsciência e um excelente estado de auto-equilíbrio interior e exterior.

Uma outra questão referente ao Hatha Yóga e suas práticas a ser referenciada aqui, é o fato que dentro dos conceitos do Hatha Yóga, o corpo eletro biológico é junto aos aspectos acima abordados, outro elemento valioso e precioso a ser constantemente observado e cuidado. Sob todos os sentidos. E a este respeito, o mesmo deve ser muito bem tratado e preservado.

Seja por meio de alimentação sadia e adequada, seja por meio do sono adequado, seja por meio de relações adequadas, seja por meio das práticas de exercícios adequados. Seja por meio do respeito ao mesmo, considerando-o como um templo dentro do qual reside a essência divina do ser.

Sob este aspecto, é importante considerar ainda que há dois aspectos de crucial importância no que concerne ao corpo eletro biológico.

O primeiro deles é que este “corpo” será o corpo que uma pessoa terá até sua transmigração.

Portanto, tal pessoa, pode determinar como será este corpo. Se mais saudável ou doente, se mais leve ou mais denso. Se mais ágil ou mais pesado, se mais flexível ou mais rígido. Desta maneira, cabe a cada pessoa ter consciência e atitude em como vai tratar – se com carinho ou com violência – este corpo. Se com cuidados especiais ou com desleixo.

O segundo deles é que este “corpo”, conectado ao espírito e abaixo da luz do  espírito, conectado às sua estrutura psíquica, mais conhecida como cérebro, forma uma tríplice estrutura, que serve de veículo por meio da qual uma pessoa pode atingir – em vida – um estado de libertação – moksha – ou um estado divino.

Através do qual, efetivamente, consegue se libertar da ilusão do sofrimento, das doenças, das paixões de todos os tipos, das tristezas, das amarguras, dos desamores, rancores, ódios e outros sentimentos e emoções, que nascem diretamente da ignorância e de uma das suas substâncias mais forte, que é a ilusão.

Novamente aqui, cabe esclarecer, que atingir tal libertação é totalmente possível, porém, a pessoa que busca a mesma, terá que desenvolver um alto grau de consciência interior. E que com o tempo irá se tornando mais e mais sofisticada, E esta consciência elevada, é obtida tanto por meio dos elementos que foram acima esclarecidos e também pelas práticas do Hatha Yóga, desde que adequadamente praticadas e compreendidas.

Pré conclusão
 
É muito importante que tudo o que foi acima exposto, não é privilégio de alguns escolhidos e que nem existem pessoas escolhidas. Mas sim é possível a toda e qualquer pessoa que busque este estado elevado de consciência.

Que tome a atitude interior de desenvolver ou resgatar a mesma. E que a partir daí, se auto determine a manter este objetivo ideal por toda a sua vida. Independente de todas as situações e circunstâncias que forem ocorrendo ao longo do tempo.

 

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