(Continuação vide parte 1 e 2)

Dinastias Chinesas e a Evolução do Feng Shui

9. Dinastia Yuan (1279-1368 d.C.)

Dinastia Mongol que durou menos de cem anos. Os herdeiros de Gengis Khan caíram rapidamente no século XIV, principalmente por não adotarem a língua chinesa e as tradições ancestrais. As altas taxas impostas pelo governo disseminaram revoltas em quase todas as províncias chinesas. Chu Yu-Chang, um ex-monge budista, tornou-se o líder da revolução, que culminou na queda dos mongóis e na fundação da dinastia Ming.


Nesse período, o Feng Shui ficou extremamente fechado, e pouco se tem notícia da evolução das técnicas.

10. Dinastia Ming (1368-1644 d.C.)
 
Império baseado nas transações comerciais com o mundo ocidental. Muitos Estados vizinhos considerados como não chineses pelo governo foram obrigados a pagar tributos à corte, e dispendiosos gastos com defesas territoriais enfraqueceram o tesouro real. Quando os rebeldes tomaram a nova cidade de Beijing, os Ming formaram uma união com os Manchus para reforçar o exército. Entretanto, uma grande rebelião tomou conta do império quando os manchurianos se recusaram a sair do território; os rebeldes forçaram o último rei a cometer suicídio, pondo fim à dinastia.


Nascimento e período áureo do mestre Jiang Da Hong e transmissão das técnicas secretas das Estrelas Substitutas para o discípulo Jian Du. Já na tradição San-He são elaborados os clássicos sobre os aspectos formais das montanhas e direcionais dos rios (Shang Shui Long Pai – Estudo dos Dragões de Montanha e Água).


Na dinastia Ming, o Feng Shui modificou-se e fragmentou-se em diversas doutrinas e métodos. Sobre o estudo da natureza, a classificação das montanhas foi simplificada para cinco tipos básicos e a dos vales para onze tipos. Só a montanha imediatamente atrás do local de sepultamento era considerada, em vez das diversas cadeias de montanha. Adotou-se o sistema das 3 Eras e 9 Ciclos, com pequenas mudanças entre os ciclos e grandes mudanças entre as eras. A Luo Pan, que antes tinha 16 anéis, nessa época foi ampliada, chegando alguns a ter mais de 36.


Um clássico do Feng Shui escrito durante a dinastia Ming teve grande influência e determinou o desenvolvimento do Feng Shui no decorrer das dinastias Ming e Qing. Di Lin Yin Zi Shi Zhi (A Essência do Reconhecimento das Formas Terrestres), foi o primeiro de toda uma série que apresenta exemplos de locais de sepultamento bem-sucedidos.


No final dessa dinastia multiplicaram-se os livros sobre Feng Shui. Era fácil o acesso aos clássicos ou as suas imitações populares. Por causa disso, a auto prática do Feng Shui se espalhou após uma simples leitura de um livro sobre o assunto, sendo assim explorado pelas massas supersticiosas. O Kan Yu adquiriu nessa época uma imagem tão ruim que até hoje temos o provérbio: “os mestres de Feng Shui podem enganar você por oito ou dez anos”. Os métodos tornaram-se contraditórios, confusos e equivocadamente complicados.

11. Dinastia Qing (1644-1911 d.C)
 
Os Manchus chegaram ao poder no século XVIII quando controlaram a Manchúria, Mongólia e Tibet, além de invadir as principais províncias chinesas. A rebelião de Taiping (1850-1864), considerada como a mais sangrenta da história chinesa, enfraqueceu as bases de comando. Nas últimas décadas do século XIX, governantes estrangeiros, principalmente europeus e americanos obtiveram o controle de partes do território chinês. Um líder revolucionário, Dr. Sun Yat-Sen, pôs fim ao já frágil império, com a sede do governo transitando, posteriormente, entre Nanjing e Beijing.

Imagem 1: Mapa Fei Xing


No Kan Yu, a Escola Xuan Kong Fei Xing (Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras) tem seu apogeu, especializando-se nos estudos cíclico-energéticos das construções. No início da dinastia, havia pelo menos cinco maiores escolas fundadas na China, sendo todas se intitulavam detentoras da verdadeira sabedoria divulgada por Jiang Da-Hong, o que fez surgir infinitas suposições a respeito das técnicas e teorias do Xuan Kong. Algumas linhas: Duas obras, a primeira oriunda do mestre Shen Zu Nai, seu filho Shen Zhao Ming e o discípulo Jian Yu Cheng, intitulada Shen Shi Xuan Kong (Estudos de Shen sobre o Vazio Misterioso), e a segunda, pelo mestre Sam Chuk Yin (1848-1906) Estrelas Voadoras do Mestre Sam, tornaram-se referências obrigatórias sobre o estudo do tema.

Imagem 2: Obra Ba Zhai Ming Jing



Data-se desse período os clássicos do sistema dos 8 Palácios, tais como Zhou Shu Men Ba Zhai (Método dos Portões de Zhou), compilado em 1739 d.C., por Zhang Bing Lin, Yang Zhai San Yao (Os Três Requerimentos para as Casas dos Vivos) de 1786, por Zhao Jiu Feng, e Ba Zhai Ming Jing (O Espelho Reluzente das 8 Casas) em 1791, sob autoria de Ruo Guan. Este último é considerado, ainda hoje, o sistema Ba Zhai mais difundido, principalmente pelos mestres San-Yuan. Aliás, a popularização do método das 8 Casas, através da divulgação de técnicas totalmente distintas em diversos livros, criou inúmeras confusões sobre as teorias e funcionalidade desse sistema, dificuldade essa que permanece até os dias de hoje.


Intrigas e disputas entre os supostos mestres e a confusão sobre as verdadeiras bases criaram mistificações e enganos, que por fim significaram a decadência do Feng Shui ao status de superstição popular. Tal situação foi agravada nos tempos de Mao Ze Dong, quando se pode afirmar que a sabedoria do Kan Yu foi enterrada, proibida e em certo aspecto, esquecida, sobretudo em Beijing.

12. Idade Moderna (1911- 2012)
 
• República da China (1911-1949 d.C.): república iniciada por Sun Yat-Sen. Mesmo com a morte deste, o movimento nacionalista cresceu e, após a Segunda Guerra, o território chinês foi dividido em República Popular da China (com sede em Beijing), e República da China / China Nacional (com sede em Taiwan);


• República Popular da China (1949- até os dias atuais): revolução cultural de Mao Ze Dong, com a forte perseguição aos ritos e culturas ancestrais. Nesse sentido, tem-se na memória a invasão ao Tibet (1950) e o mais recente protesto na Praça da Paz Celestial (1989). Composto por um vasto território, inclui províncias, regiões autônomas, municípios (como Beijing e Shanghai) e regiões administrativas (como Hong Kong).

Ao mesmo tempo em que a repressão ao Feng Shui e sabedorias antigas ocorreu nas regiões governamentais em décadas passadas (como Beijing), por outro lado a expansão financeira, os grandes investimentos e arquitetura baseada no estilo internacional, fizeram algumas regiões como Taiwan e Hong Kong tornarem-se ícones econômicos, com ampla divulgação atual das técnicas do Kan Yu como parte do sucesso nas empresas e grandes corporações, o que tornou o Feng Shui elitizado.


Durante a revolução comunista chinesa, muitas famílias fogem do país, exilando-se na Europa e Estados Unidos. No Ocidente, em meados dos anos 80, a palavra Feng Shui é associada à Escola do Budismo Tântrico do Chapéu Preto, fundada pelo professor Thomas Lin Yun, e baseada no sincretismo dos conceitos clássicos chineses, na cultura magística xamânico-tibetana Bön e na Programação Neurolinguística. O sistema utiliza a sugestão mental, descartando a Luo Pan tradicional, e simplificando a análise da edificação aos famosos “cantos” simbólicos. Aplicam-se ainda técnicas encantamento e rituais de consagração. Nos últimos vinte anos, surgem vertentes, tais como o Space Clearing (Limpeza Energética de Espaços), Escola da Pirâmide, Escola das Oito Aspirações, etc., sendo o termo Feng Shui comumente confundido como um sistema de decoração intuitiva.
Alguns mestres de sabedoria tradicional do Kan Yu começam a divulgar os conhecimentos ancestrais no Ocidente. O Feng Shui Clássico, como denominado, é subdividido de maneira simplificada em Escola da Forma e da Bússola. Teorias sobre a adaptação das técnicas clássicas ao Hemisfério Sul surgem nos anos 90, juntamente com o resgate do Vastu Shastra (tradição indiana de estudo energético residencial). Pouco a pouco, as técnicas ancestrais são retomadas.


Parte da linhagem do Feng Shui continua como tradição familiar taoista, e em algumas universidades locais, mestres e estudiosos ensinam e pesquisam o Kan Yu sobre o disfarce acadêmico de história ancestral, mitologia ou antropologia chinesa.

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